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As Fibras e a Lesão Desportiva

15 abr 2016Notícias

As Fibras e a Lesão Desportiva

As Fibras e a Lesão Desportiva

Artigo de opinião de Paulo Mourão – Preparador Físico da Equipa Principal do Sport Lisboa e Benfica

“Citius, Altius e Fortius”
Quando em 1894, na criação do Comité Olímpico Internacional, o Barão Pierre de Cobertin, propôs este simples mote como lema dos Jogos Olímpicos, certamente não esperaria o impacto que tamanha frase originou no Desporto mundial.

O que é facto é que qualquer desportista, de uma forma inata ou adquirida, almeja ser o mais “rápido” [Citius], o mais ”alto” [Altius] e o mais “Forte” [Fortius], numa superação clara daquilo que são as suas capacidades. Num qualquer evento desportivo, ser “Citius, Altius e Fortius “ representa a vitória, a conquista de uma medalha ou, mais do que isso, em última instância, representa o bater de um record.
De forma a alcançar o tão desejado objetivo, o caminho mais óbvio é através do desenvolvimento da performance, recorrendo, entre outras estratégias, ao treino. Não obstante, um outro percurso para o conseguir é o recurso ao desenvolvimento tecnológico, nomeadamente na utilização de equipamentos e vestuários desportivos especificamente desenvolvidos para essa função. Este tipo de equipamentos, compostos por materiais fibrosos, oferecem inúmeras caraterísticas, tais como redução de peso, otimização mecânica, maior elasticidade, diminuição de atrito e conforto, permitindo entre outros, termorregulação, respirabilidade e, mais recentemente, a monitorização de sinais vitais (frequência cardíaca, temperatura corporal, etc.).

A título de exemplo, sabemos atualmente que o desenvolvimento dos materiais de construção de bicicletas, levou a um aumento da performance na ordem dos 220% nos últimos 102 anos, sendo 101% destes, atribuídos a melhorias aerodinâmicas . Também os famosos “swimsuits”, bastante mediatizados pelo nadador norte-americano Michael Phelps, se configuram como um bom exemplo da utilização destes materiais na melhoria do rendimento, neste caso, não só através da redução de atrito, mas acima de tudo pela compressão que o mesmo potencia nos membros inferiores e superiores.
Todavia, estas melhorias tecnológicas, associadas ao incremento desmesurado do processo de treino, bem como do aumento dos momentos competitivos, configuram-se como um fator de risco de lesão acrescido, verificando-se com elevada frequência, a tão indesejada lesão desportiva. Aliás, atualmente, a ciência mostra-nos que quanto maior a carga de treino, maior o risco de lesão.

É com base nesta premissa que cada vez mais, a prevenção de lesões se configura como uma preocupação constante por todos os profissionais envolvidos no processo de treino, quer seja pelo controlo das cargas de treino, quer seja pela utilização de inúmeros equipamentos de proteção e prevenção. É assim facilmente entendível a presença de tecnologia também em estratégias profiláticas. Inúmeros exemplos podem ser indicados, tais como as clássicas “caneleiras” utilizadas pelos jogadores de futebol, os “capacetes” utilizados no ciclismo ou as ligaduras de estabilização articular, entre outros.

Todavia, e apesar de o desenvolvimento tecnológico ter evoluído de forma significativa no que diz respeito a esta proteção, tem-se verificado que o número de lesões não tem reduzido, aliás, dados recentes mostram que, não só não se tem reduzido, como nalgum tipo de lesão tem aumentado , representando um prejuízo assinalável, tanto para o praticante como para o clube que representa.
Dentro de lesões muito comuns como lacerações e entorses, a utilização de pensos e ligaduras é uma realidade bastante antiga, tendo-se assistido contudo ao surgimento de materiais altamente inovadores, com elevados níveis de flexibilidade, resistência, porosidade e biocompatibilidade, facilitando o processo de reabilitação da lesão.

De igual modo, implantes ortopédicos, termo-moldáveis, tem vindo a substituir os clássicos “gessos”, permitindo a redução da imobilidade, bem como dos tempos de ausência, aumentando ainda o conforto durante o tempo de utilização do mesmo.
Todavia, e dando como exemplo o caso concreto do futebol, estes tipos de lesão representam apenas 20% de todas as lesões registadas. Atendendo à epidemiologia da lesão no futebol, constatamos que cerca de 70% das lesões são do tipo músculo-tendinosa e cápsulo-ligamentar . Lesões altamente incapacitantes, podendo originar elevados dias de ausência – no caso concreto de uma rotura total do Ligamento Cruzado Anterior, o número de dias de ausência raramente se situa abaixo dos 180 (6 meses), consoante a intervenção cirúrgica utilizada – o que representa um enorme prejuízo para o jogador/clube, quer em termos de rendimento, quer em termos financeiros.
O desafio atual prende-se com uma possível mudança de paradigma, substituindo o recurso a enxertos autólogos, por enxertos artificiais, que assegurem, por um lado maior resistência, mas por outro, menor tempo de imobilidade e ausência da prática desportiva.

[1] Haake,S. J. (2009). The Impact of Technology on Sporting Performance in Olympics Sports. Journal of Sports Sciences, 27(13): 1421-1431
[2] Gabbett, T. J. (2016). The training-injury prevention paradox: should athletes be training smarter and harder? Bristish Journal of Sports Medicine, 0: 1-9
[3] Ekstrand, J., Walden, M. & Hägglund, M. (2016). Hamstring injuries have increased by 4% annually in men’s professional football, since 2001: a 13-year longitudinal analysis of the UEFA Elite Club injury study. Bristish Journal of Sports Medicine, 0: 1-8
[4] Ekstrand, J. (2013). Playing too Many Matches is Negative for both Performance and Player Availability – Results from the On-Going UEFA Injury Study. Dtsch Z Sportmed. 64: 5-9

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