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Colaboração Universidade-empresa: a união faz a força!

15 set 2016Notícias

Colaboração Universidade-empresa: a união faz a força!

Colaboração Universidade-empresa: a união faz a força!

Artigo de opinião de Catarina Roseira | Coordenadora da Pós-Graduação em Marketing Manager da Porto Business School

Há alguns anos, uma equipa de investigação duma universidade portuguesa conseguiu um avanço significativo na sua área de pesquisa, o que lhe valeu um importante prémio europeu e a atenção dos media. Questionado por um jornalista sobre a eventual intenção de transformar o resultado obtido em algo comercializável, o responsável pela investigação respondeu em tom escandalizado que a Ciência não existe para fazer dinheiro. Do outro lado do Atlântico, o MIT (Massassuchets Institute of Technology) faz questão de afirmar que 50% das suas patentes registadas nos USA estão licenciadas a empresas, tal como 30% das patentes pendentes. Para o MIT ganhar dinheiro com a Ciência é ético e uma evidência da sua relevância para além das fronteiras do universo académico.

Estes dois exemplos ilustram visões muito diversas do papel da Universidade na criação de valor. Numa visão tradicional, a Universidade tem duas missões: o ensino e a investigação. O papel da Universidade consiste em produzir conhecimento novo e qualificar o capital humano através dos seus diferentes cursos, como licenciaturas, mestrados, doutoramentos. As duas missões imbricam-se através da ancoragem da formação dos estudantes na investigação científica, cultural e artística produzida na Universidade. A Universidade cria valor e transfere-o através dos estudantes que forma e as empresas recrutam. Adicionalmente, a Universidade divulga o conhecimento que produz através de canais tradicionais como a publicação de artigos em revistas científicas ou a participação em conferências académicas, cuja audiência é composta em grande medida por académicos.

Atualmente, é consensual a existência duma Terceira Missão da Universidade, que implica o seu envolvimento com a sociedade, ou parafraseando a missão da Universidade do Porto, a “valorização social e económica do conhecimento e a participação ativa no progresso das comunidades em que se insere”. Ou seja, já não basta à Universidade produzir conhecimento, é preciso que seja capaz de o transformar em real valor económico, social, cultural, ambiental através do seu envolvimento com os diferentes atores sociais, económicos e culturais que a rodeiam.

Atualmente, é consensual a existência duma Terceira Missão da Universidade, que implica o seu envolvimento com a sociedade
Será que tal significa a menorização das suas atividades de ensino ou de investigação? De forma nenhuma, já que o conhecimento científico cultural e artístico é o ativo fundamental da Universidade sobre o qual a interação com a sociedade deve ser construída. Sem investigação científica, o MIT não teria patentes para licenciar e assim obter receitas para investir em ensino e nova investigação, sustentando novos ciclos de criação de valor. Hoje, a importância de valorizar economicamente o conhecimento científico é consensual em Portugal. Várias universidades portuguesas têm gabinetes de transferência de tecnologia com o objetivo de apoiar a gestão da propriedade intelectual do conhecimento aí produzido. Para além disso, desenvolvem ecossistemas de inovação e empreendedorismo, que incluem centros de ciência e tecnologia e incubadoras de empresas, apoio à criação de spin-offs, atração de centros de investigação de grandes empresas, oferta de programas de formação a empreendedores, organização de competições de ideias de negócio e apoio a novos negócios, apoio à internacionalização de start-ups, etc. O UPTEC da Universidade do Porto e o IPN (Instituto Pedro Nunes) são apenas dois exemplos desta realidade, já reconhecidos nacional e internacionalmente.

O ensino mantém-se como uma forma privilegiada de transferência de conhecimento, particularmente através do ensino pós-graduado, como mestrados e doutoramentos no caso do conhecimento mais complexo. A formação contínua não conferente de grau e a formação à medida das empresas respondem também à necessidade crescente de atualização de conhecimentos sentida pelas empresas e seus colaboradores. A este nível, o envolvimento de empresas e outras organizações na identificação dos grandes desafios e tendências futuras é um contributo valioso para ajudar a Universidade a desenvolver ofertas formativas que garantam o desenvolvimento de competências alinhadas com as necessidades da sociedade.

Para além disso, cada vez mais empresas e universidades colaboram em projetos e consórcios de investigação nacionais e internacionais. A maior exigência das agências de financiamento quanto à diversidade dos participantes nos projetos de investigação e ao impacto económico, social e ambiental da inovação produzida constitui um forte estímulo à colaboração. A necessidade de colaborar para obter o financiamento tão necessário a universidades e empresas pode bem ser o estímulo inicial necessário para criar pontes entre os dois mundos, mas não é certamente suficiente para garantir a sua sustentabilidade.

A multiplicação e aprofundamento destas e de outras formas de criação e transferência de conhecimento dependerá dos benefícios mútuos reconhecidos pelos atores envolvidos nestes processos. As vantagens da colaboração podem não ser reconhecidas a priori, já que frequentemente, Universidade e empresas têm visões do mundo, linguagens, horizontes temporais e ritmos diferentes. Para compatibilizar ou minimizar essas diferenças, é necessário interação, reciprocidade, confiança e comunicação. Tal ajudará Universidade e empresas a conhecerem-se mutuamente, identificar as suas bases de competências e recursos, principais desafios e indutores estratégicos, e compreender as suas necessidades e também como é que podem colaborar para co-criar soluções para os seus problemas. Num mundo cada vez mais complexo e competitivo, a partilha de conhecimento e a co-criação de valor são cada vez mais condições essenciais à valorização, competitividade e sustentabilidade de Universidade e empresas.

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