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"Os resíduos de plástico estão a poluir cada vez mais os oceanos e em 2050 haverá mais plástico do que peixe nos oceanos"

12 mai 2022Notícias

"Os resíduos de plástico estão a poluir cada vez mais os oceanos e em 2050 haverá mais plástico do que peixe nos oceanos"

"Os resíduos de plástico estão a poluir cada vez mais os oceanos e em 2050 haverá mais plástico do que peixe nos oceanos"

"Os resíduos de plástico estão a poluir cada vez mais os oceanos e em 2050 haverá mais plástico do que peixe nos oceanos"

Em exclusivo à Fibrenamics, Célia Vilas Boas, Diretora Executiva da BioRumo, dá resposta a várias questões sobre a sustentabilidade dos vários setores de atividade. Este artigo, corresponde à 1ª parte desta entrevista.

1. Considerando o facto do setor da construção ser um dos setores com maior impacto ambiental, que medidas aponta como possíveis caminhos para alcançar uma maior sustentabilidade deste setor?

Torna-se fulcral que o setor da construção adote medidas que integrem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) alinhados com os três pilares do conceito de sustentabilidade: (proteção) ambiental, (crescimento) económica e (equidade) social.

Essas medidas poderão passar pela adoção da digitalização e materiais de construção sustentáveis que contribuam para a descarbonização da economia e a economia circular, aliados ao combate às alterações climáticas com a redução das emissões de carbono.

Um planeamento sustentável da construção do edificado irá permitir minimizar uma eventual demolição deste e consequente diminuição de resíduos de construção e demolição (RCD) gerados.

O uso racional de recursos naturais, adotando medidas desde o início de uma obra, com a integração de sistemas de aproveitamento de águas pluviais e de reciclagem de águas cinzentas, diminuição do consumo de energia, com recurso à iluminação e ventilação naturais, instalação de painéis solares, contribuem para o alcance de uma maior sustentabilidade do setor da construção.

Outras medidas: instalação de coberturas verdes – para além da função de captação de água pluvial para posterior reutilização na rega ou lavagem de espaços comuns, estas contribuem para o isolamento térmico e acústico da construção; gestão adequada e otimizada dos resíduos sólidos provenientes da construção e demolição, através da separação destes resíduos em todo o ciclo da obra, aliados à sua redução, tratamento e encaminhamento adequados (a valorização).

 

2. Tocando agora na indústria têxtil, também considerada como uma das mais poluentes, acredita que o conceito de fast-fashion deverá ser repensado no sentido de se poder neutralizar os efeitos negativos provocados por este setor, no meio ambiente?

Atualmente, torna-se imperativo que a indústria têxtil altere o seu paradigma de consumo, passando pela adoção de práticas sustentáveis e mais amigas do meio ambiente, a fim de reduzir a pegada ecológica, devido, sobretudo, ao fast-fashion.

O impacto ambiental do mundo da moda, no que respeita ao consumo dos recursos naturais, continua a crescer, sendo que, a indústria têxtil é a quarta indústria que mais consome esses recursos, comprometendo assim o acesso destes às gerações futuras. Para além disso, a produção têxtil massiva, recorre ao uso de fibras de plástico (poliéster) que, consequentemente, com as lavagens das peças, se decompõem em microplásticos.

Para minimizar os impactos da indústria têxtil, a solução passaria por repensar o ciclo de vida completo de cada peça de roupa que consumimos e evitar o desperdício, numa perspetiva de economia circular.

Isto passaria pela produção de forma consciente, aplicando novas tecnologias que caminhem na direção da reciclagem de todos os resíduos têxteis.

Por exemplo, atualmente já existem estilistas que estão a contribuir para a mudança do panorama atual.  Estilistas como Ralph Lauren, Stella McCartney e Eileen Fisher já possuem nas suas peças, tecidos orgânicos (comummente designados como eco-friendly) ou resultantes da reciclagem de materiais. Desta forma, estão a contribuir para a redução, na produção têxtil, do desperdício de energia, água e produtos químicos.

Existem ainda outros exemplos de procedimentos que contribuem para a prática de uma moda mais sustentável, tais como:

  • Aplicação de colas menos tóxicas e de corantes naturais, minimizando a poluição dos oceanos e contaminação dos lençóis freáticos;
  • Uso de fibras simples em vez de misturas, para que estas possam ser facilmente recuperadas aquando da reutilização;
  • Utilização de energia renovável e fibras de subprodutos no processo de produção das peças de roupa.

Embora, atualmente, estejamos muito aquém de sistemas de recolha, tratamento e reciclagem que consigam manter os têxteis existentes em circulação, começam a surgir novas tecnologias capacitadas para a reciclagem dos resíduos têxteis (incluindo aqueles cuja composição se trata de uma mistura de fibras têxteis), voltando a ser integrados na sua cadeia de valor.

 

3. Sabendo que a Estratégia Europeia para os Plásticos tem por objetivo, até 2030, assegurar que todas as embalagens de plástico colocadas no mercado da União Europeia sejam reutilizáveis, compostáveis, biodegradáveis ou facilmente recicláveis, acredita que esta medida permitirá a redução das ilhas de plástico, tendo em conta que, em jeito de curiosidade, a ilha de lixo no pacífico continua em crescimento desde 1997, sendo, atualmente, 3 vezes maior do que a França?

Os resíduos de plástico estão a poluir cada vez mais os oceanos e, segundo estatísticas recentes, em 2050 haverá mais plástico do que peixe nos oceanos, em peso.

A redução das ilhas de plástico não passa apenas pela reciclagem dos plásticos, uma vez que a produção e acumulação irá ser sempre bastante superior do que a quantidade de plástico reciclado. Esta não poderá ser a única solução, mas o fim de um conjunto de ações que inicia na redução do consumo de plástico.

Anualmente, morrem milhares de mamíferos marinhos e aves aquáticas por confundirem o plástico das ilhas de lixo com alimentos ou ainda por ficarem presos nas redes de pesca deixadas no mar.

Consequentemente, a saúde humana sofre com esta acumulação de lixo marinho. Os micorplásticos ingeridos, por exemplo, pelos peixes que consumimos passam, através da cadeia alimentar, para o nosso organismo.

Torna-se  assim urgente, que a sociedade europeia colabore nesta missão de redução das ilhas de plástico.

A Diretiva Europeia sobre plásticos de uso único (Diretiva UE 2019/904), que contempla o compromisso assumido na Estratégia Europeia para os Plásticos, foi um importante passo adotado na mudança de paradigma, ao preconizar medidas concretas referentes à redução de plásticos descartáveis e a sua substituição por plástico reutilizável, apoiando a criação de materiais plásticos mais inteligentes, sustentáveis e inovadores.

Também o Plano da Ação para a Economia Cicular, em 2020, integrada na Estratégia Europeia para os Plásticos, promove o aumento do plástico reciclado, dando ênfase aos microplásticos, plásticos de base biológica, compostáveis e biodegradáveis.

Estas e outras estratégias europeias referentes à reciclagem de embalagens e à redução do plástico contribuem para a redução das ilhas de plástico, mas sendo este um desafio de grande complexidade, exigem em conjunto o investimento na inovação, tranformação digital e a mudança de comportamentos, tendo a sociedade civil um papel decisivo na aceleração deste processo.

 

Veja a 2ª parte desta aqui.

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