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A nova era da Indústria e Defesa Europeias

15 nov 2018Notícias

A nova era da Indústria e Defesa Europeias

A nova era da Indústria e Defesa Europeias

Artigo de opinião de Giuseppe G. Daquino, Project Officer Materials & Structures - European Defence Agency

O começo do milénio abriu caminhos para mudanças sociais relevantes em todo o mundo. Novos fenómenos sociais surgiram a propósito da hiper conexão generalizada, seja ela individual, dos objetos, entidades ou organizações.

Três principais aspetos merecem uma análise mais pormenorizada para uma melhor compreensão de como a Indústria Europeia da Defesa tem sido e será impactada num futuro próximo.

Primeiramente, a Internet das Coisas (IoT). Os protocolos de Internet foram inventados na indústria da defesa com a DARPANet (Rede de Agências de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos Estados Unidos) para garantir a sobrevivência das redes de comunicação durante o período da Guerra Fria. Os desenvolvimentos de protocolos recentemente levaram à IoT, que por sua vez permite essa, socialmente aceite ou induzida, hiper conexão na qual milhões de objetos, sejam eles carros, casas, robots ou algo do género, têm a capacidade de perceber, processar, relatar e agir. Em outras palavras, IoT é o chamado edge processing (processamento descentralizado de dados) sendo capaz de fechar o ciclo deteção-processamento-reação. A introdução do 5G e de outros protocolos de comunicação avançados vão aumentar ainda mais a comunicação entre máquinas e o uso do processamento descentralizado de dados, que sinaliza o começo de uma nova era, dando a ilusão de que as pessoas estarão continuamente conectadas umas às outras. Na realidade essa conexão ocorrerá entre máquinas: Luciano Floridi, Professor de Filosofia e Ética da Informação na Universidade de Oxford, afirma que os “humanos representam uma ínfima parte da comunicação neste planeta”. No caso de sistemas inanimados, por exemplo, eles podem comunicar entre si independentemente da intervenção humana, e já o fazem. Isto traz novos desafios nas áreas de ciberdefesa e cibersegurança.

No caso de sistemas inanimados, por exemplo, eles podem comunicar entre si independentemente da intervenção humana, e já o fazem.
Em segundo lugar, uma consequência direta da digitalização massiva da economia e da sociedade é a quarta revolução industrial, também conhecida como indústria 4.0 (assunto de uma newsletter Fibrenamics passada). Esta transformação digital foi acelerada pelas novas tecnologias, assim como os sistemas autónomos, sensores, a ciência da análise, impressões 3D, etc. A indústria da defesa deve adaptar-se rapidamente a este novo cenário devido à obsolescência exponencial das tecnologias anteriores. A obsolescência acelerada representa um desvio da abordagem clássica da indústria da defesa no que toca ao suprimento de segurança: o armazenamento de partes sobressalentes foi baseada na suposição de que a mesma tecnologia seria utilizada por pelo menos 30 anos. Para além disto, a introdução da regulação REACH pela União Europeia e o crescimento da economia circular trouxe novos constrangimentos na abordagem tradicional. A economia circular e os seus processos de fabricação também nos podem levar à questão crítica das matérias primas e o seu fornecimento limitado. Portanto, uma nova visão é necessária para as ofertas de soluções tecnológicas por parte da indústria da defesa.

Um terceiro aspeto relacionado ao fenómeno da hiper conectividade é a transformação do conceito de campo de batalha. Uma quarta geração de guerra surgiu nas últimas duas décadas. O fenómeno da digitalização do campo de batalha foi referido como o conceito de “Nova Vestefália”, que coloca em questão o paradigma de estado nação, a sua estrutura e a sua rigidez. A guerra não está mais limitada a um perímetro confinado, ela transborda para, entre outros, a sociedade civil. O conceito de ameaças híbridas foi concebido neste contexto. Isto foi possível através da hiper conectividade, o crescimento de agentes não estatais, a revolução das comunicações e a omnipresença de redes de comunicação.

Estes três aspetos geram uma enorme procura por inovações disruptivas no setor da defesa, as quais requerem um processo intensamente dinâmico, de elevado risco e que seja adaptativo. Além disso, gigantes digitais como a Google, Amazon e Microsoft investem mais de 50 milhões de dólares por ano na inovação digital, um número que dificilmente vai ser atingido pelos governos europeus. Em 1987, o departamento de desenvolvimento dos Estados Unidos era responsável por cerca de 40% de todas as receitas de pesquisa e inovação, a partir de 2013 esta fatia caiu para menos de 20%. Na Europa, o fenómeno é ainda mais evidente. É, portanto, natural pensar que o desenvolvimento de tecnologias de defesa envolverá o investimento do setor privado no futuro, ao explorar o uso duplo de recursos e a revolução da digitalização.

Dois principais elementos vão influenciar o futuro da Indústria de Defesa Europeia: primeiramente, existe a necessidade da criação de uma massa crítica sólida dotada de credibilidade dentro dos Estados Membros da União, com o objetivo de alcançar níveis de orçamento adequados aos novos desafios. Isto pode ser conseguido através de forças europeias mais fortes, mais conectadas e mais interoperáveis. Os desenvolvimentos recentes na política de defesa europeia, como a Cooperação Estrutural Permanente (PESCO), são sinais claros de uma movimentação na direção certa. A Agência Europeia de Defesa (EDA) é responsável por estes desenvolvimentos: ela está diretamente envolvida na PESCO, na Revisão Coordenada Anual da Defesa (CARD) e na ação preparatória de pesquisa em defesa (o primeiro passo em direção a um programa europeu de pesquisa em defesa mais amplo).

Em segundo lugar, a abordagem incremental predominante na maioria das forças armadas europeias deveria ser substituída por uma abordagem mais disruptiva. Espera-se que maiores inovações surjam não apenas nas forças armadas, mas também em outros setores, ao levar em conta o forte emaranhamento entre os setores civil e da defesa. De fato, mais de 90% das tecnologias desenvolvidas para a área da defesa tem uma contraparte civil. O programa da EDA pretende apoiar estes desenvolvimentos disruptivos na tecnologia da área da defesa. O projeto MEDUSA (rede de fusão de dados com múltiplos sensores para a consciência situacional urbana), por exemplo, utiliza uma arquitetura padrão da IoT civil para conectar e fundir dados de diferentes sensores como o UAS (sistema aéreo não nomeado), UGVs (veículos terrestres não nomeados) ou os nódulos sensoriais dos soldados. O projeto da EDA “Grafeno na Defesa” vai desenvolver um guião para as aplicações do grafeno na defesa enquanto o projeto EuroSWARM (conjunto de plataformas sensoriais heterogéneas não nomeadas) examina o desenvolvimento de tecnologias adaptativas, informativas e reconfiguráveis de sistemas de conjuntos heterogéneos e não nomeados.

Estamos no início de uma nova era na guerra, exigindo abordagens a partir de tecnologias disruptivas pela indústria da defesa europeia, que pode ser facilitada por uma política europeia de defesa ambiciosa.

Estamos no início de uma nova era na guerra, exigindo abordagens a partir de tecnologias disruptivas pela indústria da defesa europeia que podem ser facilitadas por uma política europeia de defesa ambiciosa.
A Agência de Defesa Europeia na sequência da revisão de longo prazo, atua como “fórum de cooperação e estrutura de apoio à gestão para se envolver em tecnologia concreta e desenvolvimento de capacidades” e ajudará os Estados-Membros assim como a indústria da defesa dos mesmos para tornar a inovação disruptiva uma realidade na Europa.

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